Por Sylvia de Sá - Mundo do Marketing - 16/03/2010Depois de todas as atenções voltadas para a classe C, chega a hora da classe D.  Com R$ 381 bilhões para gastar em 2010 e expectativa de que a massa de renda  ultrapasse a da classe B ainda este ano, é na D que o mercado encontra novos  consumidores. Com o perfil de consumo diferente de todas as outras classes  sociais, já que não pode arriscar e precisa fazer o orçamento render, as  famílias da base da pirâmide aparecem como um desafio para o mercado, mas podem  ser uma grande oportunidade para as empresas que conseguirem  entendê-las.
Com uma cesta de produtos ainda reduzida, se comparada ao  consumo das outras classes, esses consumidores estão em ascensão. O número de  categorias consumidas passou de 21, em 2002, para 34, em 2009, segundo o estudo  Tendências da Maioria, realizado pelo Datafolha/Data Popular e obtida com  exclusividade pelo Mundo do Marketing. Entre os produtos que entraram para a  lista de compras recentemente estão suco pronto, massa instantânea, detergente  líquido, molho de tomate, creme de cabelo e amaciante de roupa. Esse número  tende a crescer e não se limita ao consumo de massa.
Em 2010, estes  consumidores pretendem adquirir computador, geladeira, moto, carro e viagens de  avião. O segredo para vender para eles está em desvendar as diferenças e  características desta classe, que muitas vezes se assemelham às da classe C.  Saem na frente as marcas que apoiarem este consumidor no momento em que ele  ingressa no mercado de consumo.
“O consumidor de classe D está sendo  apresentado agora ao universo das marcas. Aquelas que souberem ensiná-lo que  marca não é apenas status, mas que funciona como avalista de qualidade de um  produto, tendem a ter a fidelidade desse público”, aponta Renato Meirelles,  Sócio-diretor do Data Popular, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Venda deve ser assistidaMarcas que usem embalagem ou  material de comunicação para orientar estes consumidores estão no caminho certo.  A venda deve ser assistida, o que faz com que o papel do autoserviço seja menor  na classe D, que prefere comprar em feira livre, no varejo tradicional ou com um  vendedor porta a porta, para que receba explicações sobre a melhor maneira de  usar o produto.
As categorias que pretendem conquistar o consumidor da  base da pirâmide devem investir em embalagens e quantidades de menor desembolso,  que deixem o consumidor seguro para arriscar e experimentar novos produtos. Já  aquelas que estão consolidadas e são de presença contínua no dia a dia podem  apostar em embalagens tamanho família, que tendem a ser mais  econômicas.
Para as marcas de consumo de massa, a classe D é o segmento  em que as chances de faturamento são maiores. “É um mercado muito grande, o que  para os bens de consumo de massa é fundamental. Tem muito mais gente na classe D  do que na A e na B”, conta Meirelles (foto).  Atualmente, são 71,3 milhões de  pessoas que recebem até três salários mínimos. Até novembro de 2009, 30% da  classe D havia migrado para a C, enquanto 55% mantiveram a mesma posição e  apenas 15% caiu para a E. “O que a classe C for crescer virá da classe D, eles  são os emergentes dos emergentes”, explica Meirelles.
Mulheres  respondem por 43% do orçamentoProgramas como o Bolsa Família são  algum dos responsáveis por impulsionar o consumo entre essas famílias. Outro  fator importante é o aumento do salário mínimo. O último reajuste, por exemplo,  colocou R$ 27 bilhões na economia. Serviços educacionais, produtos de higiene e  beleza e itens de informática são interesses que se destacam por serem vistos  como um meio para aumentar o orçamento familiar.
De acordo com a pesquisa  do Datafolha/ Data Popular, 25% dos entrevistados pretendem matricular seus  filhos em escolas particulares. Atualmente, das 5,5 milhões de crianças de até  14 anos que estudam em colégios privados, 19,1% pertencem à classe D. Já o  computador aparece como um dos principais bens a serem consumidos este ano, com  33% das intenções de compras. A beleza também é vista como um investimento para  se destacar no mercado de trabalho.
Isso inclui as mulheres, que já  chefiam 32% das famílias de classe D e respondem por 43% do total de rendimento.  “A beleza é importante, pois elas tendem a ganhar mais dinheiro quando se  apresentam melhor. A busca pela vaidade está relacionada ao resgate da  autoestima, mas também é um investimento para se dar melhor no mercado de  trabalho”, explica o Sócio-diretor do Data Popular.
Investir na  classe D pensando no futuroNa hora de se comunicar com este  consumidor, a televisão ainda é o principal canal, mas não se pode negar o  crescimento da penetração da internet neste grupo. “Este consumidor ainda é  medroso para a compra on-line e o cartão de crédito é algo recente, mas a  internet como fonte de pesquisa de preço já é um fato”, acredita  Meirelles.
Com a consolidação da classe C e a ascensão da D, encontrar a  forma ideal para se comunicar com este consumidor é o caminho para o sucesso das  marcas que toparem o desafio. “Quem foi pioneiro olhando para a classe C olhe  para a classe D. Eles são mais jovens e farão parte do mercado consumidor por  mais tempo. Investir no futuro é investir na classe D, seja porque ela migrará  para a classe C, ou porque tem mais a conquistar, já que a cesta de produtos é  menor. As marcas que entenderem essa oportunidade têm grande chance de serem  líderes de mercado no futuro”, aconselha do Sócio-diretor do Data Popular.
Prezadas e Prezados, apesar da ênfase para o consumo, certamente temos muitas dicas sobre o perfil da Classe D, o personagem principal de nossa série de TV. Comentem o que podem aproveitar.