Feitos para o YouTube, seriados independentes começam a ganhar fãs
ApocalipZe não dá dinheiro nem alcança o grande público. Qualquer vídeo de bichinhos fofos recebe mais cliques que a primeira temporada inteira da série. Mas agradou à crítica. Foi escolhida para ser exibida no Marseille Web Fest, na França, um dos principais festivais dedicados a webséries. No mesmo festival, a websérie Heróis, também realizada pela produtora mineira, foi uma das 23 escolhidas do mundo inteiro para a mostra competitiva, um feito inédito para produções do gênero do Brasil.
As primeiras webséries brasileiras foram produzidas em 2009. Uma das pioneiras foi 2012 onda zero, uma história de fantasia cheia de efeitos especiais produzida pelo carioca Flávio Langoni. “Fizemos com o dinheiro de uma parceria para testar um sistema de TV digital”, afirma Langoni. Cada um dos quatro episódios custou R$ 90 mil. Serviram para mostrar que era possível produzir conteúdo assim. “Acabamos sofrendo com a concorrência desleal. Negociamos com um canal de TV, e eles desistiram. Pior, levaram nossa protagonista”, diz. A websérie 2012 onda zero foi a inspiração inicial do mineiro Guto Aeraphe, criador de Heróis e ApocalipZe. “Quando vi a produção, incomum para os padrões da época, comecei a cultivar a ideia”, afirma Aeraphe.
O primeiro sucesso brasileiro do gênero foi Lado Nix, a história de uma balconista de loja de quadrinhos apaixonada por filmes, games e quadrinhos dos anos 1980. A ideia é do diretor e roteirista Paulo Mavu e virou referência para quem pretende produzir webséries no Brasil. Custou R$ 85 mil e foi veiculada entre outubro e dezembro do ano passado. Recebeu 850 mil acessos. “Fizemos sem nenhum incentivo, com dinheiro da própria produtora”, afirma Mavu. O retorno foi a visibilidade para sua produtora, a Mambo Jack. “Muitos clientes novos ficaram impressionados com o resultado e voltaram, principalmente com a pós-produção, nossa especialidade. E novos clientes apareceram.”
Nos Estados Unidos, onde o gênero já se consagrou, as webséries são exibidas em plataformas on-line como o Hulu e a Netflix, vendidas no iTunes ou na rede do console de games Xbox. O maior sucesso é The guild, lançada em 2007, sobre um grupo de amigos apaixonados por games. Só no YouTube houve mais de 69 milhões de acessos, e a série está em sua quinta temporada. No Brasil, o YouTube, gratuito, é quase o único meio de exibição. A promoção fica a cargo do boca a boca e das redes sociais. O grupo mais ativo de produtores é o 8KA, com quatro títulos no YouTube, entre eles a comédia adolescente Armadilha. O canal do grupo tem 1,3 milhão de acessos.
Com a banda larga popularizada e a migração da audiência da televisão para a internet, o público das webséries deverá aumentar rapidamente. Ao contrário dos filmes e seriados convencionais, os episódios normalmente não duram mais de dez minutos. A edição é ágil, para prender a atenção do espectador e evitar que ele clique em algum link. Os planos são mais fechados nos personagens, uma adaptação ao tamanho das telas do monitor e dos celulares. Essa estética, que consagrou as webséries americanas, é repetida nas nacionais. Se o modelo der certo, as produções independentes se tornarão referência.
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