“Nós acreditamos que o Ginga é a plataforma padrão que nos permitirá
trabalhar com múltiplas telas, múltiplos dispositivos e conteúdos
complementares, preservando o widscreen para o vídeo”, disse Raymundo
Barros, diretor de engenharia da TV Globo São Paulo, ao fim do painel
que discutiu a convergência da TV digital e das Smat TVs ou TVs
conectadas, semana passada, no Congresso da Sociedade Brasileira de
Engenharia de Televisão, SET2011, realizado em São Paulo.
Imagine vídeos e outros conteúdos sob demanda sendo enviados
diretamente ao televisor pela banda larga simultaneamente com a
programação que se está se assistindo em broadcast. Estes vídeos podem
aparecer na tela ao lado do programa principal e de acordo com critérios
preestabelecidos como os mais vistos, os melhores votados, de acordo
com o perfil do usuário, etc. Poderíamos simplesmente ligar o televisor
em um canal e decidir assistir a programação ao vivo via broadcast, ou
assistir ao jornal, ou a cenas do capítulo anterior da novela que
perdemos ao vivo, através de conteúdos sob demanda via broadband
enviados pela emissora em seu ambiente interativo.
No caso do Brasil, conteúdos interativos broadcast e broadband podem e
devem rodar no Ginga, o middleware interativo do padrão brasileiro de
TV Digital, de forma transparente para o usuário, que no ambiente ideal,
com TV Digital conectada à internet não saberá de onde este conteúdo
estará vindo. É nisso que emissoras, fabricantes, e até mesmo o governo
começam a trabalhar.
Em artigo publicado na última revista da SET, Emerson Weirich,
diretor de Engenharia da EBC, define este cenário como Hybridcast ,
padrão avançado de radiodifusão na era broadband, já em gestação nos
laboratórios da estatal japonesa NHK. “Quando lançado poderá ser uma
nova revolução no conceito de TV digital como a assistimos hoje”, diz
ele. Além da combinação da transmissão broadcast com os aplicativos
baseados em Web das chamadas “TVs conectadas” (ou smart TVs) com acesso a
Internet, caracteriza-se pela integração e sincronização do conteúdo
broadcast com o conteúdo broadband que está na “nuvem” e que chega ao
mesmo tempo no televisor. Sim. Nuvem.
A TV está se movendo para a nuvem. É inevitável.
Caso a conexão broadband não esteja disponível, o televisor recebe
apenas o broadcast da forma convencional, sem problemas. Isso inclui
também alguns conteúdos de aplicações interativa Ginga enviadas pelo ar,
incluindo vídeo no formato IPTV, segundo Aguinaldo Boquimpani, da
Totvs.
Além do video on demand, for a da grade da programação, esse tipo de
combinação pode favorecer a criação de vários novos serviços, como o uso
de redes sociais dentro da transmissão da televisão. Os usuários
assistem a programação pelo broadcast e podem compartilhar comentários
pela próprio televisor enquanto assistem ao conteúdo que está sendo
exibido. E a interação pode aparecer na tela, não só como a tradicional
cinta de texto, no pé da tela, mas em objetos interativos do set. Como a
foto do perfil do internauta ser mostrada no quadro localizado na
parede do quarto do personagem da novela.
Não é de hoje que se discute sobre novos comportamentos dos
telespectadores, que assistem televisão e ao mesmo tempo estão em um
smartphone ou tablet comentando sobre a programação em sites de rede
social. A diferença é que com o Hybridcast será possível fazer tudo
isso no próprio televisor em sincronismo com o conteúdo que está no ar.
Vários outros serviços customizados podem ser criados e podem ser
selecionados para aparecer ou não na tela do telespectador. Por exemplo,
pelo broadband podem ser enviadas informações diferentes como Closed
Captions em idiomas adicionais e podem ser lidos digitalmente em voz
alta por um aplicativo de leitura instalado chamado de Text to Speech.
Vídeos e outros conteúdos sob demanda podem ser enviados diretamente
ao televisor por broadband simultaneamente com a programação que se está
se assistindo em broadcast. Estes vídeos podem aparecer na tela ao lado
do programa principal e de acordo com critérios preestabelecidos como
os mais vistos, os melhores votados, de acordo com o perfil do usuário,
etc.
Poderemos simplesmente ligar o televisor em um canal e decidir por
assistir a programação ao vivo via broadcast, ou assistir ao jornal, ou
ao filme que perdemos nos conteúdos sob demanda via broadband.
A ideia é compatibilizar a transmissão de conteúdo por Hybridcast
para os três tipos de telas: dispositivos mó¬veis, computadores e
televisores.
Broadband em alta
Radiodifusores como o SBT e a TV Globo vêm no Hybridcast uma
importante janela de oportunidade para o Ginga, o middleware padrão de
interatividade do SBTVD. Isso porque, além de perfeitamente alinhado com
o padrão japonês de transmissão ISDB-T, o Ginga é padrão ITU para IPTV.
Nenhum outro middleware no mundo trabalha tão bem questões como
sincronismo e gerenciamento de múltiplos dispositivos. O que pode e deve
ser usado a favor do Hybridcast.
E isso não é invencionice de brasileiro. Em outros países, como na
Itália e na Alemanha, os radiodifusores já trabalham na integração de
seus conteúdos com os das Smart TVs, através da adaptação dos middleware
em uso nesses países.
Por trás desse pensamento está a dura realidade do avanço do modelo
broadband, de qualquer ponto de vista, desde o mercado de receptores até
o avanço da TV on demand, influenciada pelo crescimento do vídeo on
demand na Web.
Luis Bianchi, gerente de marketing de smart TV da Philips, lembrou
aos participantes do Congresso da SET que em muitos países, a
experiência demonstra que disponibilização de conteúdos das emissoras
broadcast sob demanda tem vantagens. Pesquisa feira pela fabricante
comprova que o video on demand alavanca a audiência da programação
linear, ao invés de canibalizá-la.
A previsão da própria Philips é a de que 20% dos televisores
vendidos no Brasil em 2011 sejam das Smart TVs, o que deve significar
pelo menos 2 milhões de novos smart TVs no mercado.
A previsão do Fórum Brasileiro de TV Digital
é a de que, também em 2011, 16 milhões de televisores com conversores
digitais integrados tenham sido vendidos. A expectativa é de que esse
número suba para 28 milhões em 2012. Seria bom que as chamads TVs
digitais padrão DTV, virassem logo DTVi e fossem também Smart TVs.
Tudo o que o usuário quer é receber o conteúdo que deseja, na hora
que deseja, da forma mais transparente possível. Tudo o que o produtor
de conteúdo quer é produzir uma única vez, para múltiplas saídas. Hoje a
nuvem vem sendo vista como o oasis de integração. Há muita gente boa, e
grande, trabalhando tanto na ponta de armazenamento de conteúdos (é o
caso da Dell), como na de gerenciamento e entrega em múltiplos formatos
(caso da Cisco, apresentado no vídeo acima e no vídeo abaixo).
Os próprio fabricantes de Smart TVs estão sensíveis a questão. Tanto
que LG, Philips e Sharp acabam de anunciar na IFA uma aliança para
criação de uma plataforma única de Smart TV. A intenção, segundo o
comunicado da LG, é de trabalhar juntas na definição de requisitos
técnicos comuns para suas TVs baseadas em padrões abertos, como HTML5,
HTML e CE-HbbTV.
Nada que não possa estar agregado também aos padrões usados no Ginga.
As três, por acaso, são licenciadoras da implementação Ginga da Totvs e
oferecem o middleware nos seus modelos DTVi.
O primeiro passo do grupo será a introdução, ainda em outubro deste
ano, da primeira versão beta de um software de desenvolvimento comum
(software development kit – SDK), que permita aos desenvolvedores de
conteúdo criar um único aplicativo capaz de funcionar com TVs da LG
Philips e Sharp Aquos Net+.
A tecnologia, como se pode ver, está toda aí. O que falta? Vontade
para fazer o mercado florescer. Algo que o governo brasileiro pensa em
incentivar através de um programa para venda de conversores digitais
interativos que, na prática, funcionem como mídia center. E também
através do seu poder de grande anunciante, para inserir propagandas
interativas da Caixa, do Banco do Brasil, da Petrobrás, entre outras
estatais, não só nas emissoras públicas, como também nas emissoras
comerciais.
Falta também as próprias emissoras começarem a ofertar mais conteúdos
interativos de qualidade. Globo e SBT são as mais ativas, mas ainda
deixam a desejar. Só agora ambas começam a vislumbrar um modelo de
negócio que justifique grandes investimentos em conteúdos interativos.
E, por fim, falta modelo de negócio para as Smart TVs.
Os próximos anos, prometem novidades estonteantes.
Tanto na TV aberta quanto na TV paga.
Há muito o que fazer, e em várias frentes. Todas digitais. Que ninguém
espere que o cenário convergente e multiplataforma se estabeleça do dia
para noite. Muita água vai rolar debaixo da ponte. Mas que ninguém
duvide que ele virá, unindo broadcast e broadband através da nuvem e
seus múltiplos caminhos.
Prezadas e Prezados, comentem essa instrutiva reportagem a partir de sua visão pessoal sobre o tema.