domingo, 14 de novembro de 2010

Série 'Clandestinos', da Globo, mostra novos caminhos para a TV


Por Mauro Trindade - Terra TV - 14/11/2010

Há uma certa ideia de que a dramaturgia na televisão deva ser naturalista. Isto é, que os atores devam representar da forma mais próxima possível da vida real, sem grandes arroubos emocionais, sem exageros na gestualidade ou na expressão corporal. Clandestinos - O Sonho Começou, série escrita e dirigida por João Falcão que, desde a semana retrasada, a Globo exibe, reduz a poeira esta concepção.

Como a televisão trabalha muito com planos fechados e closes, faz sentido pensar que a ênfase dramática do teatro - visto de longe por dezenas de pessoas - tenha de ser abrandada. E, já que na TV a maior parte do corpo desaparece na maioria das cenas, a expressão corporal precisa ser mais leve.

Daí as cenas televisivas serem bastante estáticas - à exceção das externas de ação. E, por isso mesmo, há tantas cenas à mesa em novelas. Mesmo o mais miserável dos personagens toma café da manhã de hotel cinco estrelas. Com todo mundo em volta de uma mesa de cozinha, a movimentação fica reduzida e os diálogos podem transcorrer sem maiores problemas de deslocamento de câmeras e de enquadramentos.

Clandestinos é a história de jovens interessados em participar de uma peça teatral e que se submetem a um teste classificatório implacavelmente curto. Pelo tema, que permite planos gerais que exibem todo o corpo dos personagens no palco e pela faixa etária dos atores em papéis de jovens, é possível uma atuação mais carregada. O que, em outros contextos, tornaria-se "overacting".

A presença de novos atores, formados por uma escola tão diferente das oficinas de atores de TV, também imprime diferenças na maneira de ser e de agir destes 17 novos talentos, entre eles, as gêmeas Giselle e Michelle Batista.

João Falcão reconta essa velha história do teatro, a do aprendiz e seu sonho de reconhecimento e estrelato, que pode ser encontrada em peças famosas como Odeio Hamlet, e filmes conhecidos e tão diferentes entre si quanto Cantando na Chuva e Fama. E até mesmo o programa de TV Ídolos.

De certa forma, Clandestinos retoma para a ficção o que o reality show havia roubado: o retrato do artista quando jovem, sua intensidade emocional e a explosão, em poucos minutos, do esforço da formação, da vivência e da paixão de um ator. Em recente depoimento, o ator Diogo Vilela reiterava que o teatro não é uma imitação da vida, mas matéria-prima feita na hora. Algo dessa força vital acaba de ir para TV.

Clandestinos - O Sonho Começou - Globo - Quinta, às 22h50
Prezadas e Prezados, comentem a notícia a partir de suas próprias impressões sobre a interpretação na TV e as suas experiências na direção de atores.

20 comentários:

  1. acredito que a atuação na tv impoe um limite mais light acerca da interpretação...não que isso seja ruim...muitas vezes se torna bem mais natural a cena....ainda as vezes percebo atuações teatrais em programas de tv...não sou muuuuito fã de teatro e conheço pouco, mas posso dizer q uma das coisas que não gosto é a dramaticidade grande demais...enfim...boa oportunidade pra novos talentos e novo formato de programa....

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  2. Todo mundo toma café da manhã de hotel cinco estrelas. E a bebida preferida é... suco de laranja! Já cheguei a contar 3 cenas seguidas em uma novela em que a bebida era suco de laranja! Bem, posso dizer que estou gostando muito de Clandestinos e até me atreverei a dizer que seu público alvo não é somente adolescentes, e sim jovens na busca de seu sonho: o de virarem artistas. Pessoas do país inteiro, com o sonho de arranjarem trabalho, principalmente atores, se mudam para o Rio na esperança de novas oportunidades. Lá tem muito trabalho sim, tanto para TV, cinema, e especialmente para teatro (o que não significa que todas as peças que estão em cartaz sejam de boa qualidade), porém o problema é que, tanto quanto há trabalho, há gente para disputá-lo. Alguns nem sonham com uma carreira, mas sim em tornar-se celebridade. Nessa aposta, a Globo acertou. Mirou bem o alvo! A audiência no Rio deve ser ótima. A qualidade de suas séries estão melhorando. Ao ver a propaganda de outra série “Afinal, o que querem as mulheres?”, pensei que seria mais uma produção machista que vulgarizaria a imagem feminina ( Digamos que “As cariocas” esteja cumprindo bem este papel, pois, embora não seja ruim, a imagem da mulher mostrada é a traidora, invejosa, e por aí vai...), mas a série é totalmente diferente do que eu pensava. Ela tem uma direção de arte fantástica e uma montagem diferenciada do que estávamos acostumados a ver na emissora. Mas pra quem gosta, ainda tem lixo sendo conservado, como “Casseta e planeta” e “Zorra total” e sendo criados, como “S.S.O emergência” (Decadência viu). Bem, voltemos... a proposta de “Clandetinos”, ao mostrar uma parte “elegante” de uma produção teatral é bem atraente (não são todos os diretores e produtores de elenco que tratam a gente bem que nem é mostrado lá não, viu? Lá , quem vê os aspirantes a atores, estão sempre receptivos. Ah se fosse assim...). Vi o 1º capítulo atenciosamente e o 2° mais ou menos, mas com o pouco que vi, pude perceber que atuação não é da mais naturalista. Ela é um tanto teatral, e acho que essa é a proposta mesmo (talvez até porque inicialmente, “Clandestinos” era uma peça teatral...e ainda é!), mas não podemos culpar os atores dizendo que são iniciantes, pois grandes atores da TV, as vezes se destacam dos demais não por serem bons, mas por serem teatrais. A teatralidade não me incomoda tanto no vídeo, e não é atual a proposta, mas tem que combinar com o programa onde se encaixa. Já no filme “A máquina”, também de João Falcão, tudo é teatral, desde cenário até a iluminação e improvisação. Para as duas produções, em MINHA opinião, funcionou!

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  3. Como falado no texto o teatro requer mais expressão e um certo exagero para com os movimentos e falas, para que possa também atingir aquela pessoa que está sentada na última fila do auditório. Na TV é diferente, pois a câmera e o microfone estão pertos do ator, além do enquadramento que deve ser seguido. Na TV o ator tem mais limitações de expressão, porém é melhor compreendido quando se trata de representar a vida real.

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  4. No teatro não há montagem, não há movimento de câmera e os enquadramentos são imutavelmente planos gerais, por isso é necessária a dramaticidade.
    Acho que o fato da falta de dramacidade da televisão seja uma formulinha meio tosca.
    Não sou contra a dramaticidade exagerada, sou contra a dramaticidade ruim. Vide Eisenstein, Bergman, Dreyer, etc... têm dramaticidades exageradas e são excelentes!
    O que falta na TV pra agregar diferentes formas de linguagem é coragem e ímpeto!

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  5. Marcela Moreira Carvalho17 de novembro de 2010 às 09:00

    Como disse o Yamamoto, o dramaticidade considerada exagerada por alguns no teatro é uma ferramenta do meio. Já que não conta com outros recursos que a televisão e o cinema possuem, e que, cada vez, vão mais além.
    Acho bacana a série, mas como disse o cara lá em cima, o público principal devem realmente ser as pessoas que buscam o "estrelato" de alguma maneira, ou pessoas que adoram essas formas de programas baseadas em realitys. Eu confesso que não sou muito fã.
    O que fiquei pensando quando essa série começou a ser divulgada é que, muitas pessoas que assistem, não devem entender essa ficção de reality. Devem ficar confusas. É uma ficção que fala de uma espécie de reality. E além disso é interessante tb pras pessoas que não tem a menor noção como essas seleções de atores acontecem. Mas não deve ser das tarefas mais fáceis de dirigir, né.. claro que contar com atores de teatro propriamente e desconhecidos do grande público ajuda muito.

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  6. Pra mim isso é complicado. Quanto mais filmes e peças de teatro eu assisto, mais exigente fico em relação a atuação.

    Ja tenho um problema em não confiar em ator nenhum, tenho a impressão de que o ator acaba se perdendo nos personagens e vive atuando sem nem perceber, acredito nisso e isso me incomoda. Finalizando eu só preciso que o ator/atriz me convença que o que estou vendo é real e não me importa se ele é caricato demais, se é teatral demais ou de menos. Basta me convencer.

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  7. Acho interessante a TV começar abordar temas metalinguísticos que retratam esses fazeres artísticos. Porém, acho que independente da temática inovadora da série, as atuações da globo sempre privilegiarão uma dramaticidade única, padronizada. Acho que é necessário uma tentativa de ruptura desses padrões, para que as atuações não continuem vazias.

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  8. Leonardo Bragioni - 4º P - Cinema19 de novembro de 2010 às 11:23

    Não Estou acompanhando a Sério, mas acabei de ver um trecho no youtube aqui. Pra mim atuação continua a mesma. A TV já tem um formato em suas produções televisivas, e por algum motivo, os atores que trabalham na emissora se encaixam em um formato já criado de atuação. Não sei, apenas não me soa natural. Até vejo que série tem um estilo diferente de montagem e tal. Mas pra mim a atuação continua sendo a mesma. Um problema!

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  9. o problema é que, qo assistirem tv, vocês optam pelo programa errado e curtem os programas errados e são constantemente ludibriados com algo que parece inovação. concordo com o leo. e se querem ver boa dramaturgia na tv aberta vejam zorra total, hermes e renato...

    quando disse vocês não são todos. é é impressionante como axiste aqui uma vontade de totatizar as coisas....o cinema É isso, o teatro É isso....

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  10. Não tenho muito que comentar porque não assitir!!! Fico devendo essa!!!

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  11. http://www.youtube.com/watch?v=68C-r9kSLNE&feature=related

    chupa essa, rede glóbolo!

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  12. Paulo Henrique Ribeiro23 de novembro de 2010 às 13:32

    O ator realmente deve passar por uma adaptação em sua mudança do teatro para a televisão ou o cinema. Desde a voz que no teatro deve ser projetada para a última cadeira da platéia, no cinema e TV o posicionamento do microfone capta até uma respiração mais contida. Quanto aos gestos largos, um aperto de mão no teatro deve ser com os atores um pouco mais distantes e com os braços esticados para afirmar este ato que num close de cinema pode mostrar até se o homem que cumprimenta uma mulher acaricia com os dedos a palma da mão dela.

    Filmagens de peças de teatro só funcionam para o envio da mesma para festivais, com uma tomada bem aberta para que os curadores e selecionadores possam ter uma idéia de todo o espetáculo. Uma filmagem de teatro com closes, movimento de câmera, plongées e outros recursos necessariamente implicaria em um ensaio de câmera com atores e ausência de público já que o espetáculo estaria fragmentado para uma montagem cinematográfica posterior.

    Analisar uma obra sem assistir é como gostar ou não gostar de algo que não provou. Mas lendo este comentário de Mauro Trindade, parece que este casamento deu certo. E após ver as análises contrárias de nossos colegas gostaria de ver a audiência e pesquisar outras críticas.

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  13. Vinícius Coelho Perpétuo23 de novembro de 2010 às 17:35

    Depois de tantos comentários criticando as atuações em Clandestinos (ou melhor, na emissora globo em geral) e taxando-as como "teatrais", eu fiquei até meio sem graça de expor meu ponto de vista. Não sou nenhum especialista em atuações, e posso até falar alguma besteira aqui, mas o fato é que eu não entendo como as pessoas podem generalizar uma atuação por programa. Ao meu ver cada ator interpreta de uma forma completamente diferente um do outro, não consigo rotular todos em uma definição só. Eu estou acompanhando essa série clandestinos, e estou achando brilhante. Na minha opinião tanto o roteiro como as atuações estão espetaculares. Mas por exemplo, a atuação da atriz que faz o papel de "Adelaide" realmente eu achei bastante teatral, com algumas expressões exageradas, e umas falas explicitamente decoradas. Já a atuação do ator que fez o personagem "Alejandro" eu achei super natural. Em um único episódio ele fez papel de gago, de gay, de argentino, de macaco e de ex-modelo. E eu acreditei completamente em todas essas facetas, no final eu já não sabia quem era ele. Enfim não sei quais são exatamente os quesitos pra classificar um ator em teatral demais, em bom ou ruim para TV, mas sei que esse tipo de atuação que eu pude ver nesse episódio especificamente de clandestinos, é o que me deixa fascinado pela dramaturgia.

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  14. Bom, não tenho experiência alguma com direção de atores, não assisti o seriado e não penso como ninguém aqui, fico feliz por este ser o último post, não pelo blog (nem pelo blogueiro), mas pelo tema abordado neste, o qual, me sinto um completo leigo, junto aos meu coleguinhas de classe super-interados ao assunto. Rs!

    Gosto de teatro e, inclusive, fiz algumas montagens, durante, um pouco mais de, um ano, e, também, me agrada a ideia de poder fazer televisão, sem o uso da linguagem televisiva e convencionada, praticamente, regulamentada para tal.

    E, por ainda não ter assistido à série, não me aventuro a prolongar tão irrelevante comentário.

    Rodrigo Firmo Emediato
    8ºPP/Manhã

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  15. Concordo com o texto. Um ator bom, sabe diferenciar a atuação de um teatro, para a televisão. No teatro, você têm que expressar de maneira que a ultima pessoa da plateia entenda. Na TV, nao é necessário, já que a câmera capta cada movimento e emoção.

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  16. Matheus Pereira Santos25 de novembro de 2010 às 17:42

    Estou acompanhando o seriado e estou gostando muito. Acho que é o próprio tema que permite essa exploração da interpretação menos naturalista e o uso de planos mais abertos na TV. Acho que isso está sendo feito de maneira bem sutil na série, de forma a não tornar os personagens em tipos esteriotipados, mas sim em arquétipos. Gosto muito do Guel Arraes e acho que ele tem muito cuidado com essas questões. Também percebo um contraponto na atuação durante as audições dos personagens. Quando estão dentro do universo pessoal, vivendo o sonho do artista que a série quer reprentar, a atuação volta a maneira naturalista, funcionando muito bem para esta situação. Me convence.

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  17. http://www.youtube.com/watch?v=5uIqs6UDifM

    e isso, é teatral demais?

    será esta a discussão a ser feita? o que é ser teatral demais? já assistiram fassbinder, straub (do vídeo acima)... ?

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  18. Não sou de assistir seridos/minisséries, muito menos Clandestinos, principalmente na rede Globo. Tentei assistir um episódio outro dia e não tardou já estava mudando de canal.

    Na questão da dramaticidade, acho extremamente necessário que exista no teatro, pois diferentemente do cinema, os movimentos de câmera, closes e planos (fechados) são feitos pelos próprios atores que precisam direcionar a atenção da platéia com gestos, movimentos corporais e falas, de modo que no cinema existem várias maneiras de se fazer isso. Mas isso não significa também que não possa existir atuações mais exageradas no cinema, tudo depende da proposta do filme, um filme que visa verossimilhança usar de atuações exacerbadas, com certeza fugirá da proposta e quebrará o rítimo, desprendendo a atenção do espectador, mas se a proposta for ser teatral, acho que é válido, tanto que vários musicais utilizam desse artifício.

    Na minha concepção, acho que eu provavelmente utilizarei de atuações mais secas mesmo, não gosto de nada muito exagerado, mas pelo menos a proposta mudou um pouco, apesar de ainda existir muita encheção de linguiça, o tema do Clandestinos é algo que tenta envolver um conteúdo um pouco menos "bla, bla, bla" e tenta abordar a metalinguagem, mesmo que de um jeito ainda superficial.

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  19. Não acho que Clandestinos "reduz a poeira" a concepção de que a performance dos atores na televisão deva ser naturalista.
    É apenas por este projeto em particular se tratar dos bastidores de uma peça teatral que as escolhas estéticas pertinentes a ela são como são.

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  20. Bem, eu acompanhei alguns episódios e acho que está sendo bem interessante para o grande público que tenha o costume de assistir programas televisivos. Por se tratar dos bastidores de uma peça teatral, acho que deveria ser mais marginal e não tão "limpinho", muito arrumado e como já postado antes até o mais pé rapado tma café em hotel cinco estrelas, e isso nunca aconteceria, seria bem sofrido para todos estes sonhadores, dando uma maior sealidade a trama.

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